Há uma tendência natural do público leigo em confundir atividade física com esporte. A diferença entre os dois está no fato de os esportes serem atividades organizadas. Esportes têm organização no sentido de horário, duração, intensidade e trabalho de valências físicas específicas (como condicionamento aeróbio, força e flexibilidade). Assim, qualquer esporte é atividade física, mas nem toda atividade física é esporte. A atividade física é qualquer movimento do corpo que aumente o gasto energético do organismo, como caminhar, pedalar, dançar, entre outros.

Quando falamos de esporte, estamos denominando uma atividade que envolve habilidades motoras específicas: esforço físico, regras e, eventualmente, competição. O esporte, enquanto atividade física organizada, é importante não apenas para o desenvolvimento físico e motor, mas também para o desenvolvimento social das crianças. A partir de suas regras e condições, as crianças conseguem compreender formas de se relacionar com os outros, trocando experiências, competindo e formando espírito de equipe.

Tanto as atividades físicas como a participação em atividades esportivas podem contribuir em muito na prevenção e combate da obesidade infantil, mas o mais importante é a regularidade dessas ações. O foco maior dos pais deve estar em oferecer várias atividades para as crianças experimentarem e deixar as crianças escolherem as atividades que mais lhes agradam, aumentando a adesão. Nesse sentido, a criança deve se sentir confortável no ambiente. A atividade deve ser divertida e ter componente lúdico para garantir a participação das crianças por mais tempo.

Ao oferecer à criança oportunidades para ela brincar ao ar livre, correr, pular corda, pedalar, andar de skate, patinar ou escalar, os pais contribuem para o aumento do gasto energético. O que recomendamos para crianças a partir de 5 anos é participar de atividades físicas ou esportivas pelo menos uma hora por dia e não passar mais de duas horas em atividades sedentárias, como lidar com TV, vídeos, tablets, celulares e computadores.

Outro aspecto importante é a variedade. Como a criança tem energia e curiosidade, é importante explorar mais de um esporte, não apenas para que ela tenha contato com diferentes regras e organizações da atividade física, mas para proteger o corpo de repetições que possam ser prejudiciais ao seu desenvolvimento.

Deve-se destacar também a importância do papel da família no desenvolvimento da relação da criança com o esporte. É sempre importante lembrar que não há benefícios nas exigências e cobranças exageradas dos pais em relação ao rendimento. A forma como as crianças vão se relacionar com a prática esportiva em muito depende da forma como seus pais o fazem. É bastante complicado para uma criança compreender por que ela tem que se exercitar, se os pais não gostam de fazer exercícios.

*Marcelo Riccio Facio é pediatra e médico do esporte.